CELEBRAÇÕES


HORA SANTA

Jesus, falando à sua serva Margarida Maria, disse, em 1694, no misterioso tabernáculo de Paray-Le-Monial: “Todas as noites de quinta para sexta-feira te farei participar da mortal angústia que sofri no Jardim das Oliveiras, e isto te reduzirá a uma espécie de agonia mais terrível que a morte.
Acompanhar-me-ás, nesta humilde oração que então fiz a meu Pai, entre todas as minhas tristezas, prostrando-te por uma hora com a face em terra, para aplacar a cólera divina, clamando misericórdia pelos pecadores, para assim honrar e suavizar de algum modo a amargura que senti pelo abandono da parte dos apóstolos, o que me obrigou a censurá-los por não terem podido velar uma hora comigo”. Tal a palavra imperiosa de misericórdia que estabeleceu, na primeira aurora da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a prática incomparável que chamamos “Hora Santa”.
Duas são evidentemente as ideias fundamentais desta devoção: a primeira, uma intenção de amor compassivo que nesta hora une a alma fiel ao Coração agonizante do Salvador. “Eu te farei participar” – disse-lhe Jesus – “da tristeza mortal do Getsêmani.” A segunda, uma reparação do pecado, um fim de desagravo redentor: “pedirás perdão pelos pecadores”.
E Jesus terminou com estas desconsoladoras palavras: “Tenho sede de ser amado pelos homens, mas não encontro quase ninguém que tenha vontade de me aplacar esta sede com a retribuição de um amor sincero e generoso... Não há quem me ofereça, no abandono em que me vejo, um lugar de repouso... Queres tu consagrar-me a tua alma para que nela descanse meu amor crucificado que o mundo inteiro despreza? Quero que o teu coração me sirva de asilo
quando os pecadores me perseguirem e me expulsarem de seus corações. Então, com os ardores da tua caridade, repararás as injúrias que recebo... Oh, sim! Apesar do inferno reinarei pela onipotência do meu coração!”. Tal a ideia triunfante deste exercício de reparação e de vitória. Na “Hora Santa” a alma se oferece a Jesus como asilo e ao mesmo tempo lhe pede, pela agonia e pela onipotência do seu Sagrado Coração, o advento de seu reinado na sociedade e soberania do seu amor nas consciências e nos povos. Ele o disse: “A redenção pelo seu Coração é a segunda e suprema redenção do mundo, o último esforço de seu amor”. Para secundar, pois, este esforço, para cooperar neste triunfo, a alma acompanha ao divino Mestre na “Hora Santa”, até chegar com ele à vitória, isto é, à morte!
Convém saber que a santa mãe, a Igreja, não só aprova, mas abençoa com efusão e recomenda com ardor essa prática tão santa. Os Sumos Pontífices a têm enriquecido com numerosas e preciosas indulgências. O santo padre Pio X, enriquecendo de indulgências a Confraria da “Hora Santa” e elevando-a à categoria de Arquiconfraria Universal, manifestou o apreço em que a tinha e o seu grande desejo de vê-la propagada em todo o universo.
Essa Arquiconfraria, estabelecida em Paray-le-Monial, conserva os seus registros de associados na mesma cela abençoada onde Margarida Maria expirou, recebendo a última e eterna revelação do amor daquele coração!...
Que os sacerdotes, os religiosos e todos os que de alguma forma podem exercer um apostolado de zelo, onde quer que se irradie sua influência, lembrem-se de que, depois da Sagrada Comunhão, “nenhum recurso de graça existe mais eficaz do que este”. Ah! Não esqueçam que Jesus Cristo prometeu gravar, com caracteres indeléveis em seu adorável coração, os nomes daqueles que propagarem essa devoção.
O título de “Hora dos Milagres” que o povo deu a essa devoção é o melhor atestado de sua eficácia. Queira Deus que sejam inumeráveis os apóstolos e as almas piedosas que, santificadas por esse amor, possam exclamar com a bem-aventurada confidente de Paray-le-Monial: “Eu vos pertenço inteiramente, ó divino Coração! Desfaleço com o desejo de unir-me a vós, de possuir-vos, de abismar-me em vós, de vós fazer reinar... Anelo por despojar-me desta miserável vida, para a glória do vosso Coração... onde tenho, para sempre, minha morada!...”.
A “Hora Santa” é uma oração meditada, contemplativa. Deve ser rezada lentamente e com pontos de suspensão, para dar tempo a refletir no significado de redenção que lhe quis atribuir o Salvador, quando ensinou a Margarida Maria. Convém fazê-la publicamente e diante do Santíssimo Sacramento exposto. Entretanto, as pessoas que não puderam fazer a
“Hora Santa” na Igreja podem fazê-la em casa, diante da imagem do Sagrado Coração e, sendo possível, reunindo toda a família. Pode-se estabelecer a “Hora Santa” em todas as quintas-feiras, das três horas da tarde em diante, sendo preferível à noite. Muitas pessoas fazem o exercício da “Hora Santa” nas horas de provação ou tendo grandes graças a obter. Os estabelecimentos religiosos, seminários ou escolas colherão frutos prodigiosos dessa devoção.

Os reverendíssimos párocos, capelas, reitores de seminários ou de associações pias poderão em pouco tempo verificar a fonte inesgotável de fervor e santidade que se encontra na prática desta devoção, cujos resultados maravilhosos a fizeram denominar a “Hora dos Milagres”.